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domingo, 11 de maio de 2025

TEM VALOR O ESCRITOR LOCAL?

 



Parte da minha pequena biblioteca é dedicada aos escritores locais, e quando digo ‘locais’ isto inclui os de outras cidades ou estados, desde que sejam meus amigos, irmãos, netos, etc. Esses escritores estão próximos demais para que eu os imagine como super-heróis ou de uma inteligência inalcançável. São, também, humanos demais, eu os vejo de tempos em tempos, e isso os torna reais demais para que eu os imagine como sobrenaturais, dotados de poderes divinos ou donos de uma cultura só acessível aos deuses do olimpo.

Escritores assim costumam ser relegados a um segundo plano quando pensamos em adquiri um bom livro para ler ou até mesmo para deixar sobre a mesa da sala como propaganda de nossa cultura inexistente. O imaginário popular parece considerar mais importante o que foi escrito na Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia ou em algum estado brasileiro onde os famosos publicaram suas obras e a indústria fez o papel de as divulgar e distribuir. Esse processo industrial é parecido com o que nos faz comprar Bombril, Brahma, vinho do porto. As grandes editoras lançam e comercializam poucos autores para faturar muito, é o mesmo processo dos supermercados onde um pouco mais de uma dezena de conglomerados controlam o comércio de quase todos os produtos, e nós na maioria da vezes, os preferimos aos dos micro produtores locais.

É certo que às vezes, nós mesmos, os escritores, decepcionamos o nosso público. Esquecemos que eles não têm nenhuma obrigação de saber que o que estamos produzindo é diferente daquilo que eles imaginam que vamos escrever, e eles não tem nenhuma obrigação de saber que nós temos a liberdade de escrever sobre o que estamos pensando. Essa liberdade de produzir um texto é para os deuses da literatura que estão escondidos atrás das mídias, não para as pessoas reais que encontramos nas ruas e que nos cumprimentam com um bom dia. Para eles temos que ser como Vinícius que bebia cerveja no Bar Veloso, em Ipanema, no Rio de Janeiro, quando escreveu Garota de Ipanema vendo Helô Pinheiro passar pela rua em direção à praia.

Todos que conheciam Vinícius compravam seus livros porque sabiam que ele iria escrever poesias falando de amor. As suas poesias e as suas crônicas estavam estampadas nos jornais. O que publicam as mídias hoje? Fake News, sensacionalismo, publicidade enganosa, notícias comerciais, matérias pagas, jogos de azar e, de vez em quando, literatura! “Ah, mas eu vejo muita literatura!” Sim, de autores estrangeiros ou nacionais vinculados a empresas de marketing.

Escrevi esse texto porque estou revoltado ou por que bebi muita cerveja? Às vezes quando tomo umas a mais os pensamentos voam direto para o futuro ou para o passado ou ambos ao mesmo tempo e eu fico sem controle. Me apaixono e desapaixono em uma fração de segundos. Penso na vida e na morte e nos autores locais que se esforçam inutilmente por vender suas obras e, por fim, faço planos de passar as férias de inverno na praia com as minhas reticências.

Aproveito a deixa do autor deste texto, que sou eu mesmo, para fazer a minha autocrítica. Mesmo tendo lido com frequência os autores locais, que são meus amigos, quando faço referência a algum autor em meus textos, tenho dado preferência aos ‘estrangeiros’. Mas, agora, não tenho outra opção que não seja confessar: Dourados tem grandes escritores. A começar pelo Nicanor Coelho, que pessoalmente eu não gostava, mas ‘Vida Cachoeirinha’ é uma obra a ser lida! As poesias da Heleninha de Oliveira, da Odila Lange e do Marcos Coelho, só para citar alguns, não podem passar em branco. Em junho tem a quinta FELIT- Feira da Literatura de Dourados e umas dezenas de autores locais estarão por lá para provar que nossa literatura é tão ou mais agradável que os produtos industrializados pelas grandes editoras.

Eu fico feliz que o computador tem um ícone que salva o que já se escreveu, assim eu posso deixar para continuar o texto amanhã. Agora estou tomado por muitas reticências, meus pensamentos estão em Bombinhas e eu vou abrir mais uma cerveja.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

É POP!

 




O Papa é um leão, o décimo quarto da história da Igreja Católica e eu estou aqui preocupado com o Ronaldo, o gatinho que sumiu daqui de casa há uns três dias, menos tempo que isso foi necessário para que os Cardeais trancados à chave escolhessem o Leão que os guiará até que a morte os separe. O Ronaldo só comia, bebia e dormia, agora sumiu. Morreu?

Tem coisas, ou pessoas, que somem porque morrem, como o Papa Francisco, outras simplesmente somem, como o Ronaldo, mas também tem aquelas que deixam de falar com a gente como se a vida tivesse pedido um intervalo de tempo para o descanso. Há uma semana que a saudades é uma reticência em minha vida.

Os Papas são todos POP! Até o Bento XVI, aquele que comandou uma igreja manchada pela corrupção e pedofilia e não foi capaz de tomar providências para confissão dos pecados, sim, até Bento XVI era ovacionado na Praça São Pedro em cada suntuosa aparição dominical. O Ronaldo, nosso gatinho, não é castrado e de vez em quando some daqui de casa, certamente para comer umas gatinhas no cio, depois ele volta como se nada tivesse acontecido, come a ração, toma água e dorme o dia todo com a mesma cara de santo que uma leva de padres católicos faziam depois de comer os coroinhas. Até quando a Igreja Católica vai proibir os Padre de se casarem? Pedro, que a Igreja tem orgulho de apresentar como o primeiro e mais exemplar Papa, era casado. Enquanto escrevo esta crônica, a saudades, em forma de reticência, grita um silêncio ensurdecedor no meu WattsApp.

A eleição de um Papa é um show! Parece Copa do Mundo.  Transmissão ao vivo, expectativa pelo gol, quer dizer, pela fumaça da chaminé da Capela Sistina, torcida organizada em várias partes do mundo, banca de apostas e, claro, o jogo, este sem a presença da torcida e nem da imprensa. É no Conclave, com chave, em total segredo e com votos de confidencialidade, que os cardeais, cento e trinta e três juízes, decidem o resultado do jogo não jogado. É tudo no tapetão! Não tem Superior Tribunal do Papado para julgar o processo eleitoral, não tem fiscais de urna, não tem imprensa para denunciar casos de corrupção, as cédulas são todas queimadas, não sobra nada. A torcida fica sabendo que o jogo acabou quando a fumaça branca sai da chaminé. Acho que o Ronaldo ainda não sabe quem é o Papa porque ele está sumido há três dias e eu estou aqui escrevendo esta crônica pensando nas reticências que a saudades vem deixando desde domingo passado.

À minha frente, na parede, está um Drummond que comprei na Feria de Literatura de Dourados ano passado. O quadro foi pintado ao vivo durante a feira, pela artista venezuelana Sthefhanny, e eu fico aqui me perguntando: O que o Drummond escreveria sobre o sumiço do Ronaldo, exatamente durante o Conclave que elegeu um Leão para o Papado? E a minha cabeça só pensa nas reticências que a saudades produz desde domingo passado. Eu não sei quais são os planos do Leão para a Igreja Católica, só sei que eu tenho planos para as férias de julho, eu quero ir para Bombinhas, em Santa Catarina, mas tudo depende das reticências...

quarta-feira, 7 de maio de 2025

RAQUEL DE BOA E A SANTA COMPADECIDA

 



Quando cheguei na Praça o dia se vestia de noite e o céu espionava o palco de concreto com os olhos de lua. Os olhos brilhavam as luzes e o palco estava iluminado de arte em potencial. A negritude se vestia de muitas cores anunciando espetáculo de fé! Uma pequena multidão já bebia a negritude musical e o relógio dizia que sim, daqui a pouco vai ter teatro.

Era teatro aquela história contada por verdade ou era verdade aquela história contada num teatro? Era arte! Se a história era verdadeira não sei, falava de morrer e viver, de coroar a Santa. Nem todo mundo acredita que Santa é Santa mesmo. Tem quem garanta que a Santa que já morreu voltou a viver, mas ninguém garante que depois de morrer já viu a Santa lá do outro lado da vida. Ah, desculpe! Tem alguém sim, a Raquel de Boa, ela morreu e viveu e viu a Santa, eu vi, ela morreu na peça de teatro e foi coroar a Santa lá do outro lado da vida.

Pensei em morrer também quando a Raquel de Boa reviveu, mas daí lembrei-me que já morri algumas vezes no teatro da vida real. Quatro dias depois da peça ainda faço as contas de quantas vezes morri e ressuscitei. Quase morro só de pensar em cada morte! Melhor não fazer as contas. Corro com a coroa corroída em busca da morte definitiva esperando os aplausos de quem sempre me ridicularizou.

Fechei os olhos por um instante, o suficiente para ver uma multidão de Santos: homens, mulheres e crianças sendo assassinadas na Terra Santa! Mais de cinquenta mil, mortos por um povo que se diz Povo de Deus: Israel! O inferno acrescentou combustível às suas labaredas de um fogo que não se apaga na Palestina. Uma fábrica de Beatos! Quis perguntar para a Raquel de Boa, ela que já morreu e foi pro Céu coroar a Santa, o que ela acha que seria se todos os assassinados por Israel revivessem no Céu, como ela, e fossem diante da Santa contar o acontecido, mas não pude porque já faz quatro dias que ela voltou para São Paulo. Então, alguém me ajuda, por favor: Se mais de cinquenta mil pessoas assassinadas no genocídio promovido por Israel se apresentassem diante da Santa, o que ela diria?

Cansei de pensar, agora vou dormir e sonhar com a Raquel de Boa coroando a Santa Compadecida!

 

TEM VALOR O ESCRITOR LOCAL?

  Parte da minha pequena biblioteca é dedicada aos escritores locais, e quando digo ‘locais’ isto inclui os de outras cidades ou estados, ...